No tabuleiro da baiana
Uma mistura fina de sabor brasileiro
O prato típico e mais tradicional do Recôncavo Baiano, a maniçoba, um refogado de várias carnes, misturadas e cozidas em folhas de mandioca, a maniva, apesar da sua origem controversa, é preparada e degustada com muito requinte, quase como um ritual, em toda a região, mas principalmente, nas cidades de Cachoeira e Santo Amaro.
Alguns historiadores são categóricos em afirmar que a maniçoba foi criada pelos indígenas para ser comida em rituais e celebrações. A prova disso estaria no fato desse prato ser também muito consumido no estado do Pará, onde os índios mantiveram a tradição complexa do seu cozimento.
Outros estudiosos creem que a maniçoba tem origem africana e chegou ao Brasil com os escravos de nação banto, vindos da região denominada África Austral, que abrange Angola e a República do Congo. Para seus defensores, dois costumes justificariam esta afirmação. Primeiro, por ser uma comida de preparo difícil, ela estaria vinculada à gastronomia especialmente preparada para os sobas – chefe nas aldeias em Angola, desde o tempo pré-colonial até hoje. Existem dois tipos de sobas, o soba grande e o soba. O soba grande é o soba que lidera os outros sobas na comunidade e é chamado também de manisoba = soba dos sobas, daí a referência ao nome da iguaria.
O segundo argumento é que o prato assemelha-se aos consumidos nas senzalas, que geralmente utilizavam carnes e embutidos rejeitados pelos senhores brancos da casa grande. Além disso, como explica o antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, Raul Lody, até hoje, em Angola, o prato denominado efuange é bastante semelhante à nossa maniçoba. A comida é feita do mesmo modo, com folhas de mandioca muito cozidas, enriquecidas com carne fresca e embutidos.
A polêmica em torno da sua origem, no entanto, não impede que a maniçoba seja uma iguaria muito procurada, sobretudo por quem visita o Recôncavo da Bahia. O seu preparo é feito com muito cuidado, e apenas por quem domina seu feitio.
Para quem quiser se aventurar em preparar uma maniçoba em casa, seguem a lista de ingredientes e o modo de preparação da iguaria para 10 pessoas.
Bom apetite!
O QUE PRECISA para o preparo
- 1,5kg de folhas de maniva (mandioca)
- 200g de charque dessalgado cortado em cubos
- 200g de carne de sal presa magra (suína seca e salgada) cortada em cubos
- 300g de lombinho suíno defumado cortado em cubos
- 200g de costelinha suína defumada
- 200g de bacon picadinho
- 400g de cebola branca picadinha
- 200g de cebola roxa picadinha
- 40g de alho picadinho
- 300g de tomate picadinho
- 60g de pimentão picadinho
- 4 folhas de louro
- 80g de pimenta-doce picadinha
- 200g de linguiça calabresa cortada em rodelas
- 200g de paio cortado em rodelas
- 3l de caldo de legumes
- 60g de cebolinha picadinha
- 60g de coentro picadinho
- Sal e pimenta-do-reino moída a gosto
- Água (quanto precisar)
MODO DE FAZER quase um ritual
O preparo de manuseio da folha é feito apenas por quem domina os cuidados. Pegar no pé, decantar em água, ferver por dias… Melhor é comprar em feiras, mercados e supermercados a folha já tratada e até mesmo congelada.
- Dessalgue as carnes salgadas (charque e carne de sal presa), deixando de molho de um dia para o outro e trocando a água pelo menos cinco vezes.
- Em uma panela com água, leve as carnes defumadas (lombinho e costelinha) ao fogo alto até ferver. Escorra a água e reserve.
- Em outra panela funda, frite o bacon picadinho até que fique cor de caramelo.
- Acrescente as cebolas, o alho, o tomate, o pimentão, o louro e a pimenta-doce. Refogue rapidamente por cinco minutos.
- Na sequência, acrescente as carnes, a linguiça e o paio. Refogue mais um pouco.
- Adicione o caldo de legumes, as folhas de maniva, a cebolinha e o coentro. Mexa bem e deixe cozinhar com a panela tampada até que as carnes estejam amolecidas.
- Coloque o sal e a pimenta-do-reino, a gosto.
Desligue o forno e sirva ainda quente.