Os povos originários resistem e mantêm vivos costumes e tradições
Os principais símbolos da Independência da Bahia, o caboclo e a cabocla, representam a participação popular nas lutas pela independência. Esculpido por Manoel Inácio da Costa, em 1826, o caboclo, que vai à frente do cortejo comemorativo, representa os índios e os mestiços baianos que lutaram contra as tropas portuguesas.
Somente entre 1840 e 1849, não se sabe ao certo, é que a cabocla foi introduzida no desfile, representando a índia Catarina Paraguaçu e as figuras femininas nas lutas pela independência. O termo caboclo é de origem tupi, que, àquela altura, designava os filhos de indígenas com os brancos europeus. Eram os descendentes da miscigenação entre brancos europeus (portugueses e espanhóis), negros e índios durante os séculos de colonização portuguesa.
Mas o fato é que, até hoje, os povos originários da Bahia resistem e mantêm vivos seus costumes e suas tradições. Em todo o estado, índios, caboclos, cafuzos e mamelucos resistem e difundem sua cultura para as futuras gerações.
Quando os colonizadores portugueses aportaram na Bahia, no século XVI, já encontraram esse povo nativo, muito diferente do europeu, trajando pouca ou quase nenhuma veste, mas portando muitos adornos. Eram barulhentos, em sua maioria, e se utilizavam de estranhos objetos para se defender do invasor que ali fincava âncoras.
Berço da civilização brasileira colonizada pelos portugueses, o território que hoje pertence ao Estado da Bahia abrigava, ainda, àquela altura, tribos de duas outras nações indígenas, além dos Tupis: os Gês ou Botocudos e os Cariris, que apesar da dizimação sofrida nos primeiros séculos da colonização, conseguiram chegar aos dias atuais mantendo as tradições dos seus antepassados e hoje representam uma das principais atrações turísticas em várias regiões do estado.
Reconstituir sua história e entender a origem das suas tradições e manifestações culturais é uma viagem no tempo, uma retrospectiva às mais autênticas raízes do povo brasileiro. Do extremo-sul ao nordeste, das comunidades ribeirinhas do São Francisco aos povos nativos que habitam o oeste baiano, as comunidades indígenas seguem tanto como referência de superação e luta para a preservação da cultura e da história do Brasil quanto como forte atração para os visitantes.
A resistência nos territórios e reservas
Os povos indígenas da Bahia vivem hoje em territórios específicos, situados nas regiões norte, oeste, sul e extremo-sul do estado. Estima-se que sejam cerca de 200 mil descendentes de 14 etnias indígenas, hoje distribuídos por territórios e reservas. Nas Costas do Descobrimento e das Baleias, no extremo-sul do estado, concentra-se o maior número de índios da Bahia. São descendentes diretos dos Tupinambás e dos Pataxós e habitam os municípios de Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Belmonte, Prado, Itamaraju e Itapebi.
Na Costa do Cacau, região Sul do estado, predominam remanescentes de tribos tupinambás de Olivença e pataxós Hã-Hã-
Hãe em reservas e territórios situados nos municípios de Ilhéus, Una, Buerarema, Pau Brasil, Camacã e Itaju do Colônia. Na Costa do Dendê, no baixo sul, próximo ao município de Camamu, encontra-se outra tribo Pataxó Hã-Hã-Hãe.
Às margens do rio São Francisco e na região do oeste baiano, vivem, em territórios indígenas localizados em área com predominância de caatinga, índios das tribos Atikum, Arikobé, Tuxá, Pankaru e Cariri, distribuídos nos municípios de Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Ibotirama, Santa Rita de Cássia, Muquém do São Francisco, Serra do Ramalho e Angical.
Ao norte, nas regiões do vale e dos lagos e cânions do São Francisco, em territórios oriundos da instalação de missões religiosas realizadas desde o século XVI, encontram-se os tumbalalá, pankaru, atikum, pakararé, kantaruré, xucuru-Kariri e truká, localizados nos municípios de Curaçá, Abaré, Rodelas, Glória, Sobradinho e Paulo Afonso.
Na região do semiárido baiano vivem os kaimbé, tuxá e cariri; na Chapada Diamantina, os payayás.
(Referências: Thales Azevedo – Povoamento da Cidade de Salvador, 1969 e Maria Hilda B. Paraiso – Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais, UFBA, 1982)