Milagre ou destino?
Oscar Paris
Às 20h30 do dia 26* de outubro de 1927, uma quarta-feira, o gigante italiano SS Pincipessa Mafalda naufragava a 80 milhas da Costa de Porto Seguro, extremo sul da Bahia, sepultando, nas águas revoltas do Atlântico, 382 pessoas, entre passageiros e tripulantes.
A tragédia virou manchete dois dias depois no jornal carioca O Paiz, teve grande repercussão à época e acabou voltando ao noticiário exatos 86 anos depois, com o pontificado de Jorge Mario Bergoglio, o popular papa Francisco.
O destino salvou a vida da família Bergoglio, incluindo os avós, tios e o pai do futuro papa, Mario Giuseppe Bergoglio. Todos tinham bilhetes comprados para a viagem marítima à Argentina, destino de muitos imigrantes italianos na América do Sul, exatamente no fatídico transatlântico Principessa Mafalda.
Mas o atraso na venda do café, o sustento da família em Milão, acabou alterando os planos e a saída foi adiar a travessia do Oceano Atlântico para novembro a bordo de outro navio, o Giulio Cesare.
São e salvo em terras portenhas, anos mais tarde, Mario Bergoglio casou-se com Regina Maria Sivori Gogna, com quem teve cinco filhos, sendo Jorge o primogênito da família, nascido às 21h de 17/12/1936, no bairro de Flores, em Buenos Aires, na Argentina. Vem daí a paixão do papa pelo San Lourenzo, o clube mais popular daquela região.
O ouro no fundo do mar
Ao naufragar em águas brasileiras, o Principessa, que rumava para o Rio de Janeiro com destino final em Buenos Aires, transportava aproximadamente 1.300 pessoas de várias nacionalidades. Pouco mais de 60 viajavam de primeira classe, 80 na segunda e quase mil na terceira classe, além de 300 tripulantes.
A valiosa carga de 50 milhões de libras em ouro que o governo italiano havia enviado para a Argentina jamais chegou ao seu destino. O transatlântico que desapareceu levando seu comandante, Simón Guli, 55 anos, repousa a uma profundidade de 250 metros e a quase 130 quilômetros de Porto Seguro.
*Reportagens e publicações divergem sobre a data do ocorrido, oscilando entre os dias 24 e 26 de outubro. Na matéria, a data da reportagem do jornal O Paiz é de 28/10/1927, publicada dois dias após a tragédia.
Oscar Paris, jornalista e escritor