Edição 04
Agosto
2024

O Manto Tupinambá voltou

Glicéria Tupinambá e o Manto sagrado indígena /Foto: Acervo Célia Tupinambá

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Glicéria Tupinambá diz que o Manto é um ser vivo e não está sendo tratado com o cuidado que merece

Foto: Niel  Erik Jehrbo/ Museu Nacional  da Dinamarca
Foto: Niel Erik Jehrbo/ Museu Nacional da Dinamarca

O Manto Tupinambá, um item ancestral dos povos originários do Brasil, retornou ao país no início do mês de julho, depois de três séculos na Europa. Ele estava exposto num dos principais salões do Museu Nacional da Dinamarca e agora vai fazer parte da coleção do Museu Nacional (Rio de Janeiro), que está recompondo seu acervo perdido com um incêndio, em 2018.

Integrante do Grupo de Trabalho do Ministério dos Povos Indígenas para a recepção do Manto, a artista e antropóloga Glicéria Tupinambá alega que ele não está sendo tratado com o cuidado cultural que lhe é devido. Disse que só foi avisada da volta depois que o Manto estava no museu.

“Nós iríamos tratar da recepção, para acolhida ao Manto. Não é só repatriamento institucional com embaixador e museu. É necessária, também da presença dos rituais e cerimônias religiosas. Diferente de tratar o manto como simplesmente um objeto. É um item vivo e, nós, Tupinambás, achamos necessário que a sociedade saiba que conseguimos um ato importante, que é a sua volta”, disse Glicéria.

O Museu Nacional afirmou que respeita os saberes dos povos indígenas, com os quais trabalha em harmonia e contato direto.

Embaixador indígena

O Manto mede cerca de 1,80 metro, tem 80 centímetros de largura e foi costurado, há mais de 300 anos, em uma malha, com uma técnica ancestral do povo tupinambá. É feito de penas vermelhas de guará, ave típica das regiões de manguezais do litoral da Bahia, vermelha por causa do hábito de comer caranguejos da mesma cor.

Para os tupinambás, o Manto é um “ser vivo”, um “embaixador” do seu povo. Era utilizado em rituais religiosos para agradecer ao deus sol ou na morte de um guerreiro. Era a conexão com o divino, um portal ao transcendental. Existem apenas outros dez desse tipo no mundo, produzidos entre os séculos XVI e XVII.

A comunidade tupinambá da Serra do Padeiro, localizada na ainda não demarcada Terra Indígena Tupinambá Olivença, em Ilhéus, sul da Bahia, solicitou a volta do Manto em 2002 e, em agosto do ano passado, a doação da peça foi anunciada em ação conjunta do embaixador brasileiro na Dinamarca, Rodrigo de Azeredo Santos, e do Museu Nacional.

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