Acontece que sou baiana
A dona da voz
Ela não é uma iniciante, com uma voz bonita, em início de carreira. Marcela Bellas já é uma cantora e compositora experiente, segura, com inúmeros trabalhos de qualidade realizados onde coloca o seu timbre, doce e singular, cada vez com mais maestria. Ela é danadinha.
Com muita força, coragem de arriscar e uma enorme capacidade de trabalho, Marcela já conquistou o seu lugar na nova geração da música brasileira, mas não para de buscar novos parceiros, novas experiências. Embora não tenha divulgado oficialmente, sabe-se que, nesta primavera, Marcela está empenhada no projeto de um disco novo, que deverá vir a público no verão, com os consagrados compositores Edu Casanova e Tenison Del Rey.
Nas suas andanças, com suas canções pops, românticas e até dirigidas ao universo infantil, como fez no show “Playgrude”, Marcela já cantou e dividiu o palco com artistas como Elza Soares, Emicida e Arnaldo Antunes. E tem composições gravadas pelo conterrâneo Saulo, por Júlia Bosco, do Rio de Janeiro, Juliana Sinimbu, do Pará, Talita Avelino e Mão de Oito, de São Paulo.
Coisa do destino
Um dos momentos mais marcantes da carreira de Marcela Bellas foi o disco “Undergrude”, feito com Helson Hart e Jorge Papapá, dois importantes compositores baianos da atualidade.
Helson acha que a sua parceria com Marcela foi coisa do destino. O encontro aconteceu por intermédio de uma amiga comum, a DJ Adriana Prates, numa rave no Clube de Engenharia da Bahia, sob a luz néon dos spots e dos byts de Mauro Telefunk Soul. Conta que daí surgiu “Quando o Samba Quer”, a primeira música que fizeram juntos para o EP “Leve”, o de lançamento da carreira de Marcela.
Mais tarde, Bellas gravou também “Poesia Barroca e Música Baiana”, um trabalho de altíssima qualidade, no qual Helson Hart musicou oito poemas de Gregório de Matos, o Boca do Inferno, que considera “algo maior do que tudo que existe”.
Marcela Bellas – complementa Helson – tem uma dimensão clara dentro da música baiana e, para mim, é uma cantora grande, que coloca emoção em cada nota. “Ela faz com que o nosso estranho amor seja menor do que o tamanho que ela é como cantora”, brinca.
O jeito e o timbre
Jorge Papapá, compositor com Sergio Passos da música “Deixo”, um dos maiores sucessos da baiana Ivete Sangalo e um dos três criadores do disco “Undergrude”, também elogia o trabalho e a trajetória de Marcela Bellas.
Ele conta que, antes de conhecer Marcela, já admirava o seu trabalho porque ouvia na internet e passou a gostar do seu canto, do seu jeito de cantar, do timbre da sua voz. Ela tem um canto muito específico, diz Jorge, que complementa: “e tem um trabalho diversificado porque gosta de dividir parcerias com vários artistas, vários compositores, isso é uma coisa legal”. Papapá é de opinião que a junção de Bellas e Hart “foi uma coisa maravilhosa porque ele é um autor espetacular, e isso enriqueceu muito a obra dela”.
Danadinha
Conheça o poema de Gregório de Matos musicado por Helson Hart e interpretado por Marcela Bellas, temperado com o swing baiano. Eles acrescentaram “Danadinha” ao texto original.
Há coisa como ver um paiaiá
Mui prezado de ser Caramuru
Descendente do sangue de tatu
Cujo torpe idioma é Copepá.
A linha feminina é Carimá
Muqueca, pititinga, caruru,
Mingau de puba, vinho de caju
Pilado num pilão de Pirajá.
A masculina é um aricobé,
Cuja filha Cobé, c`um branco pai
Dormiu no promontório do Passé.
O branco é um Marau que veio aqui:
Ela é uma índia de Maré:
Cobepá, Aricobé, Cobé, Paí.
2 Responses
Viva nossa Bahia e nossas pérolas raras!!!
Fico feliz de ver a produção musical de Jorge Papapá atravessando gerações. Grande abraço de Parahyba de Medeiros e demais amigos aqui de Fortaleza!!