Edição 04
Agosto
2024

Marcela Bellas

Acontece que sou baiana

A dona da voz

Ela não é uma iniciante, com uma voz bonita, em início de carreira. Marcela Bellas já é uma cantora e compositora experiente, segura, com inúmeros trabalhos de qualidade realizados onde coloca o seu timbre, doce e singular, cada vez com mais maestria. Ela é danadinha.

Com muita força, coragem de arriscar e uma enorme capacidade de trabalho, Marcela já conquistou o seu lugar na nova geração da música brasileira, mas não para de buscar novos parceiros, novas experiências. Embora não tenha divulgado oficialmente, sabe-se que, nesta primavera, Marcela está empenhada no projeto de um disco novo, que deverá vir a público no verão, com os consagrados compositores Edu Casanova e Tenison Del Rey.

Nas suas andanças, com suas canções pops, românticas e até dirigidas ao universo infantil, como fez no show “Playgrude”, Marcela já cantou e dividiu o palco com artistas como Elza Soares, Emicida e Arnaldo Antunes. E tem composições gravadas pelo conterrâneo Saulo, por Júlia Bosco, do Rio de Janeiro, Juliana Sinimbu, do Pará, Talita Avelino e Mão de Oito, de São Paulo.

Coisa do destino

Um dos momentos mais marcantes da carreira de Marcela Bellas foi o disco “Undergrude”, feito com Helson Hart e Jorge Papapá, dois importantes compositores baianos da atualidade.

Helson acha que a sua parceria com Marcela foi coisa do destino. O encontro aconteceu por intermédio de uma amiga comum, a DJ Adriana Prates, numa rave no Clube de Engenharia da Bahia, sob a luz néon dos spots e dos byts de Mauro Telefunk Soul. Conta que daí surgiu “Quando o Samba Quer”, a primeira música que fizeram juntos para o EP “Leve”, o de lançamento da carreira de Marcela.

Mais tarde, Bellas gravou também “Poesia Barroca e Música Baiana”, um trabalho de altíssima qualidade, no qual Helson Hart musicou oito poemas de Gregório de Matos, o Boca do Inferno, que considera “algo maior do que tudo que existe”.

Marcela Bellas – complementa Helson – tem uma dimensão clara dentro da música baiana e, para mim, é uma cantora grande, que coloca emoção em cada nota. “Ela faz com que o nosso estranho amor seja menor do que o tamanho que ela é como cantora”, brinca.

O jeito e o timbre

Jorge Papapá, compositor com Sergio Passos da música “Deixo”, um dos maiores sucessos da baiana Ivete Sangalo e um dos três criadores do disco “Undergrude”, também elogia o trabalho e a trajetória de Marcela Bellas.

Ele conta que, antes de conhecer Marcela, já admirava o seu trabalho porque ouvia na internet e passou a gostar do seu canto, do seu jeito de cantar, do timbre da sua voz. Ela tem um canto muito específico, diz Jorge, que complementa: “e tem um trabalho diversificado porque gosta de dividir parcerias com vários artistas, vários compositores, isso é uma coisa legal”. Papapá é de opinião que a junção de Bellas e Hart “foi uma coisa maravilhosa porque ele é um autor espetacular, e isso enriqueceu muito a obra dela”.

Danadinha

Conheça o poema de Gregório de Matos musicado por Helson Hart e interpretado por Marcela Bellas, temperado com o swing baiano. Eles acrescentaram “Danadinha” ao texto original.

Há coisa como ver um paiaiá

Mui prezado de ser Caramuru

Descendente do sangue de tatu

Cujo torpe idioma é Copepá.

A linha feminina é Carimá

Muqueca, pititinga, caruru,

Mingau de puba, vinho de caju

Pilado num pilão de Pirajá.

A masculina é um aricobé,

Cuja filha Cobé, c`um branco pai

Dormiu no promontório do Passé.

O branco é um Marau que veio aqui:

Ela é uma índia de Maré:

Cobepá, Aricobé, Cobé, Paí.

2 Responses

  1. Fico feliz de ver a produção musical de Jorge Papapá atravessando gerações. Grande abraço de Parahyba de Medeiros e demais amigos aqui de Fortaleza!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia Também

As andanças do Capitão Virgulino, sob o sol inclemente que aquece e ilumina a região norte da Bahia, foram marcadas por batalhas violentas, perseguições implacáveis, estratégias ardilosas, fugas espetaculares, traições, vinganças e muitos momentos de amor, de calma, de descanso e festa.
O tradicional caruru de São Cosme dos baianos é servido primeiro para sete crianças que comem juntas, ao mesmo tempo, com as mãos
Nos adornos e no jeito de vestir, na comida, na religiosidade, nas artes, na linguagem, no andar, na alegria e no riso largo de sua gente. Aqui, tem a mão do negro em tudo
“Vivo e vejo a fotografia como meio de estancar a sangria do tempo. Aprendi com as pessoas a linguagem da alma, seus códigos e cores"