Meio ambiente
Sobreviver sem perder a ternura jamais
O pequeno réptil, o mico, o veado Mazama e a onça parda podem ser vistos de perto ou ao longe no Raso da Catarina. Em contraste com os discretos tons ocres e avermelhados da paisagem, uma das visões que mais encantam os visitantes são as cores fortes da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari): azul-cobalto na cauda longa, nas asas e nas costas, azul-esverdeado na cabeça e no pescoço e apenas na barriga o azul é desbotado.
Embora ameaçada de extinção, a revoada matinal em bando desses pássaros se mantém como uma das melhores atrações do cânion seco. Para assisti-la de maneira organizada, há duas opções de locais em que instituições protegem os dormitórios das araras-azuis-de-lear: a Toca Velha, em Canudos, e a APA Serra Branca, em Jeremoabo – ambas situadas em áreas diferentes do Raso da Catarina.
Se a escolha for a Toca Velha, e pra chegar em tempo de ver a revoada, o turista deverá sair do hotel ou alojamento às 4 horas e usando roupas de cores fracas para não espantar as araras. Acompanhado de um guia, seguirá num veículo 4×4 até a área de 1.500 hectares guardada pela Fundação Biodiversitas.
A sequência será a pé por uma trilha que leva ao alto de um paredão de arenito e o mais próximo possível das palmeiras prediletas dessas aves – ali, elas se escondem e se alimentam de seu fruto, o coquinho licuri. Poderá, então, usufruir do espetáculo: os pássaros azuis partindo em bando para outro ponto do cânion, enquanto o vermelho amarelado do nascer do sol vai colorindo tudo ao redor.
Na tela do cinema
Está faltando nessa paisagem uma parente próxima da arara-azul-de-lear, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), de tamanho menor e também natural da caatinga, que ganhou fama mundial como personagem da série de filmes “Rio”. No entanto, em 2000, a espécie já foi considerada extinta na natureza, mas hoje há a esperança de que volte a viver em seu habitat.
A ONG alemã Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), junto com outras instituições, vem trabalhando para isso. Montaram centros de reprodução da ararinha-azul na Alemanha, em Minas e na zona rural de Curaçá, na caatinga baiana, onde dezenas dessas aves começaram a ser soltas no ano passado.