Edição 04
Agosto
2024

Ludgero!

Ilustração: Mixel Gantus

Crônica

Ludgero! O tropel do cavaleiro andante desafia a artificial inteligência no linguajar

José Armando Nogueira

Ô Ludgero! A pois! Se mestre Suassuna ainda pisasse estes espinheiros! Tal cavaleiro, letrado que só, das imaginações e forças imperiais agrestes, couraça e gibão infuráveis, com uma lanceta na ponta da língua. Ox! Cavalo baio ou sarapintado, soerguido no trote. Af! Picasseado nas patas simuladas. Com pincel escorregadio no relvado da tela. Despiste!? Era um só bradar pra toda essa maquinaria se afugentar que só bode na cerca de vizinho malfazejo.

Retrocesso? Nem medo do presente e nadinha de surpresa com o futuro. Máquina de pensar? Quero ver duas de zilhões de coisas pra ameaçar susto: ter consciência, dor de amor, e ter chip reprodutor. Dupla hélice? Gônodas? Genes? Neurônios? Nicles. Ora, onde já se viu abrigar preguiça de pensar!? Ele diria melhor no fundo da sua rede tricotada de sisal: “não troco meu oxente por sua cornucópia chipada.”

Ô Ludgero! Quem vai lancetar esse moinho de vento Cervantês? A farsa é baça. Falsa e basta! Querer um responsório rasteiro da linguagem. Vix! Sem o sentimento contido na gota da face! Nem na gota serena do orvalhado estendido? Eis! É coisa do não digo o nome, nem eles vão saber. Se serventia outras tem, digo o não sei. Eu garanto que a maquinaria não garatuja. Queria ver uma, sozinhamente, imaginar o Sussuarão. Nem com bilhão de caderninhos do Rosa. Maquinal, macunaimicamente preguiçoso? O Mário! O desvairo! Saltitou do bonde 3 Avenida, mesma linha que eu permeei lá pelos 60, na Pauliceia.

Inteligência desnatural! Ora, abestunte só: uma filha das bestuntagens dos homens querer ser mais do que quem as fez! Coisa de tirar a costela do chip, e exibir ao criador que tu és menos que tuas criaturas. Assunte. A da moléstia é pouco. Coisa como diz Ludgero, maquiavélico remido. Sabe que o Príncipe só governa quem o deixa; como deixar se governar por sua própria invenção? Artificial já é o cão sem latido. Inteligente não é mais que a lombriga, que escolhe um viver pouco salubre.

E as invenções da mentira? Nem Santo Agostinho vai filosofar sobre as ditas tantas? Com a falta de verdade mais nítida, tem coisa salvadora? Ir atrás do poeta. Pasárgada? É um bom trecho até lá. Vadiar no Raso da Catarina? À cata de sombras de prosas de Euclides. Da cunha como a rasteirice das unhas desses matinhos sobreviventes à seca anual de onze meses. Eita! Idade do cio de égua. Cheirar resto de chumbo em Chorrochó, Jeremoabo e até na velha Canudos. O único rio que não seca no Raso é o Vaza-Barris, pelas bandas da fazenda da Catarina, mulher rendeira de posses, que perdeu a lavoura pras nuvens. Trovoadas de gafanhotos!

Que máquina sabe das gramáticas euclidianas, donde o sertanejo peregrina? Ainda se escuta o uivo conselheiro do Antônio. Talvez, talvez o melhor pra esquecer pensamento chipado é plantar pacova. E distribuir banana. Caetanamente emprestado: “entre os animais.” Chacrinhantemente divertido: “quem vai querer?” Banana pra dar e comer. De direito e bom proveito. Né não, Ludgero? I. Aaaah!

José Armando Nogueira,
publicitário aposentado sem vestir o pijama

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