Edição 04
Agosto
2024

Acarajé. Deliciosa bola de fogo

Elaine Michele, filha da Dinha do Acarajé Foto: João Lins

No tabuleiro da baiana

Foto: Manu Dias/Secom

Uma das especiarias mais saborosas e conhecidas da culinária baiana, o acarajé, bolinho de feijão frito no azeite de dendê, segundo o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, chegou à Bahia com os escravizados de etnia nagô, das regiões iorubás da Nigéria e do atual Benin, então Daomé.

A palavra acarajé, na África iorubana, deriva de àkarà (bola de fogo) e jê (comer). Juntando as duas palavras, significa comer bola de fogo. Mas na Bahia, o fogo vem de um picante molho de pimenta. No ritual do candomblé, o acarajé é comida sagrada, ofertada aos orixás, principalmente a Xangô e a Iansã.

Impossível circular pelas ruas de Salvador e não sentir o cheiro do azeite de dendê, principalmente para quem estiver perto do Largo de Santana, no Rio Vermelho. E heresia seria falar de acarajé sem dar o devido destaque a dona Lindinalva de Assis, ou simplesmente Dinha, a mulher que criou um dos tabuleiros mais famosos da Bahia desde a década de 1970.

Com sorriso largo e braço forte, Dinha aprendeu desde cedo os segredos que transformam o feijão fradinho nesta maravilha da culinária afrobaiana. No Largo de Santana, conquistou clientes famosos e anônimos, e com o acarajé criou os filhos Elaine Michele, Eliana Claudia e Edvaldo. A matriarca partiu em 2008, mas seu legado permanece no mesmo tabuleiro que lhe fez ganhar o Brasil e o mundo, agora sob administração dos filhos e parentes próximos.

Baiana de acarajé, bacharel em Turismo e pós-graduada em Planejamento e Organização de Eventos, Elaine reafirma o compromisso com a tradição sempre que faz o despacho de nove mini acarás para a orixá. “A gente prepara todos os dias o acará de Iansã. Eu carrego a ancestralidade e a responsabilidade de manter o legado da família”, afirma a filha de Iemanjá, com a autoridade de quem está no ramo há 25 anos.

Comida de santo, tempero de alegria e ancestralidade

Enquanto isso, o cheiro da fritura vai fazendo a fila crescer. Logo ali, no estacionamento do Largo de Santana, funciona há mais de 30 anos o Acarajé da Regina, uma das preferidas também. “Temos fregueses antigos e fidelizados desde o tempo da Euclydes da Cunha”, celebra Lidiane Ferreira, 40 anos, nora de Regina que, do alto dos seus 71 anos, “aparece de quando em vez”.

No Largo da Mariquita os clientes também aguardam o tempo que for necessário para saborear o Acarajé da Cira, Jaciara de Jesus, famosa baiana de Itapuã que antes de falecer (4/12/2020) tornou-se conhecida como a melhor receita de acarajé de rua da capital, até também acomodar-se no Rio Vermelho. Difícil agora é escolher. A única certeza é que não tem como dar errado.

Cira do Acarajé, Jaciara de Jesus, a pioneira dos anos 70/ Foto: Estadão Conteúdo
Nada como saborear um acarajé nas noites boêmias do Rio Vermelho /Foto: Ademir Rodrigues

RENDIMENTO: 30 unidades

  • meio quilo de feijão fradinho
  • 3 cebolas grandes
  • Sal a gosto
  • 2 litros de azeite de dendê

MODO DE PREPARO

1) Coloque o feijão para hidratar por cerca de uma hora ou até os grãos incharem a ponto de cair a casca;

2) Em seguida, bata o feijão em um liquidificador até ficar uma massa homogênea;

3) Bata as cebolas em um liquidificador com pouca água;

4) Misture a cebola e o feijão em um recipiente (panela de alumínio) e coloque sal a gosto. Continue batendo com uma colher de pau até que a massa atinja a textura mais fina possível, tipo neve;

5) Coloque o azeite de dendê em uma panela funda juntamente com uma cebola inteira com casca e deixe ferver até o azeite borbulhar

6) Com uma colher menor faça os “bolinhos” com a massa e coloque para fritar no dendê. Não se esqueça de virar o acarajé até fritar completamente

7) Agora, é só tirar o bolinho da fritura, deixar o azeite escorrer por alguns segundos e pronto. Bom apetite!

Receita gentilmente cedida por Elaine Assis
(Acarajé da Dinha)

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